
O impacto do COVID-19 no mercado mundial e regional de seguros marítimos: A percepção do corretor de seguros

A Willis Towers Watson é um dos mais importantes brokers no setor de seguros marítimos do mundo. Foi por esse motivo que entrevistamos sua equipe do segmento Marítimo para saber o impacto do COVID-19 no setor e em sua atividade de intermediação.
¿Em relação ao transporte de carga e na sua posição como brokers, vocês realmente perceberam uma redução na negociação de prêmios de apólices facultativas?
Neil Bath (líder do segmento Marítimo da América Latina): A desaceleração do comércio mundial ocorrida como resultado do COVID-19 e as medidas adotadas para combater a pandemia, têm um forte impacto no volume de carga e nos níveis de prêmios correspondentes. As apólices anuais, sujeitas a ajustes de prêmio até o vencimento, não pagarão prêmios adicionais antecipados, mesmo nos casos em que as apólices estão sujeitas a prêmios mínimos. A situação pode ser mais complicada nas apólices de Stock Throughput, onde os volumes de tráfego serão inferiores ao esperado, mas as exposições podem ser substancialmente superiores às previstas antes da crise.
As renovações estão se mostrando ser um desafio, pois os clientes estão sob intensa pressão econômica para cortar despesas, incluindo prêmios de seguros, enquanto as seguradoras e as resseguradoras lutam para manter os níveis de prêmios após vários anos de resultados adversos na subscrição. Algumas matérias-primas, como o petróleo, sofreram um colapso dramático em seus preços, o que impactará os prêmios nesses setores industriais no futuro. O pagamento de prêmios também é motivo de preocupação no momento em que os segurados enfrentam dificuldades no fluxo de caixa.
¿Como os contratos automáticos têm sido afetados pela interrupção da cadeia de suprimentos? Vocês viram, por parte das seguradoras ou resseguradoras, soluções suficientes para os desafios que a interrupção do comércio não essencial traz para os segurados?
Scott Butler (Willis Re, Marine Treaty): Os resseguradores geralmente percebem o COVID-19 como um evento de entrada de prêmios em vez de um evento de reclamações. Assim, esperam ver um volume reduzido de prêmios em contratos proporcionais, mas também uma redução nos pedidos de reclamações. Nos casos em que os prêmios mínimos se aplicam, há uma relutância em negociar descontos, embora números de três trimestres e uma visão estatística mais completa sejam necessários antes das decisões finais. Em algumas partes do mundo, as condições dos contratos foram modificadas, por exemplo, a de que o armazenamento é limitado ao curso normal do trânsito.
Isso não tem sido um problema, embora possa haver problemas em relação às coberturas de terrorismo / SRCC. Esperamos ansiosamente ver as resseguradoras revisando suas carteiras de forma detalhada; algumas terão exposições significativamente maiores de armazenamento e acumulação, o que de fato, aumenta a exposição dos resseguradores por excesso de perda de maneira desproporcional, enquanto outras terão uma redução genuína na exposição devido à atividade de trânsito reduzida.
Em relação ao seguro de cascos, quanto foi afetado pela subscrição das apólices para cruzeiros no Caribe e de cabotagem fluvial?
NB: Todas as principais linhas de cruzeiros suspenderam suas operações e as frotas do Caribe foram recolhidas (laid up), especialmente no sul da Flórida e nas Bahamas. Muitos dos maiores navios estão ancorados nas costas das ilhas particulares pertencentes às suas empresas para minimizar os custos. Era de se esperar que a maioria desses navios estivesse recolhidos em (warm lay-up), permitindo uma reativação razoavelmente rápida quando necessário. No entanto, deveria haver mais preocupação de que um número tão grande de ativos de alto valor seja acumulado em uma área relativamente pequena, especialmente com o início da temporada de tempestades que acontece em junho. A outra preocupação de longa data é a força financeira das linhas de cruzeiro, com a RCCL e CCL relatando perdas substanciais no primeiro trimestre e incapazes de operar novamente até o final de julho, se houver.
O comércio fluvial da região, especialmente no Paraguai e no Paraná, já está sofrendo problemas econômicos na Argentina e no baixo fluxo do rio. Essa situação é agravada pela desaceleração econômica resultante da pandemia do COVID-19. Os retornos por lay-up impactarão os prêmios, bem como uma redução nos valores de cascos, embora menos operações devam levar a uma redução no número de sinistros. A longo prazo, pode haver preocupação com os níveis adequados de manutenção, prevenção de perdas e possivelmente, risco moral.
Em quanto tempo as frotas latino-americanas devem entrar no Lay-up? Vocês consideram que a região está suficientemente qualificada para enfrentar os desafios técnicos do Lay-up?
NB: A primeira parte desta pergunta é muito difícil de responder pois existem vários fatores desconhecidos, como quando os países permitirão que as atividades sejam retomadas e quanto tempo levará para que as economias locais, regionais e globais se recuperem dos efeitos dos fechamentos. A visão otimista é de que haverá uma rápida recuperação no terceiro e quarto trimestre do ano, mas que poderá ser mais lenta e gradual no ano de 2021. Vários países da região também têm dificuldades econômicas e/ou políticas subjacentes, o que dificultará as recuperações.
A maior parte da frota da região é composta de pequenos navios e embarcações, portanto, não se espera que a capacidade recolhida seja um grande problema. No entanto, um problema de grande preocupação é se a região possui recursos para reativar adequadamente um grande número de navios após uma parada prolongada. Ter equipes adequadas também pode ser um problema se o pessoal experiente encontrar emprego alternativo durante a parada dos navios e relutar em retornar ao mar após a reativação da frota.
Em relação aos riscos de carga e cascos da América Latina, vocês notaram uma mudança geral nos tipos de condições solicitadas pelos segurados ou pelas seguradoras?
NB: Os subscritores de carga estão pressionando para incluir Exclusões de Coronavírus/Doenças Transmissíveis nas renovações, como a AML 5391, 5395, JC2020-011 ou suas próprias versões. A maioria dos subscritores concluiu que as exclusões do COVID-19 ou doenças infecciosas não são necessárias ou relevantes para as apólices de casco e maquinaria, exceto Riscos Portuários (que incluem P&I) e apólices de Riscos de Construtores, onde os subscritores buscam incorporar uma Cláusula de Exclusão de Coronavírus ou Doenças Transmissíveis, como a AML 5395 ou similar.
As companhias de resseguros impuseram novas condições que antes não eram comercialmente viáveis, mas que agora são obrigatórias?
SB: Principalmente as resseguradoras estão revisando como seus clientes lidam com as exposições às doenças transmissíveis. Em muitos casos, eles são obrigados a aplicar cláusulas de exclusão completa em todas as renovações, embora isso ainda precise ser comprovado. Em vez disso, o mercado está avançando em seus esforços para lidar com as exposições cibernéticas, excluindo as coberturas não afirmativas.
Antes da pandemia, havia rumores de que o mundo estava entrando em um mercado difícil no ciclo dos seguros. Quão verdadeiro isso foi para os riscos latino-americanos? Depois que a crise passar, essa tendência continuará ou um mercado fraco será mantido?
NB: Os mercados internacionais Marítimos estão se endurecendo desde o final de 2018 e o início de 2019, e antes da pandemia, já estávamos experimentando um mercado muito difícil que jamais tínhamos visto, tanto para Cascos como para a Carga. O mercado latino-americano tem sido mais lento para endurecer, principalmente porque há capacidade local suficiente, seja por resseguro por contrato ou co-seguro local. No entanto, em 2019, esses mercados – com algumas exceções notáveis – também estavam endurecendo, embora não necessariamente no mesmo nível dos mercados internacionais.
Os mercados internacionais de seguros e resseguros esperam grandes perdas como resultado da pandemia do COVID-19 e, embora o mercado marítimo não seja seriamente afetado por sinistros, este evento global afetará a capacidade e a filosofia de subscrição em todas as linhas de negócios.
Em 2020, os subscritores marítimos sofrerão uma redução nos prêmios como resultado da desaceleração econômica, e sua receita de investimento também sofrerá devido à queda nos mercados financeiros.
Em conclusão, deve-se esperar que este mercado difícil continue no futuro próximo.
Para o seguro de P&I, quanto os riscos da região foram afetados? Especialmente em termos de cruzeiros, tripulação em quarentena ou marinheiros doentes.
NB: Atualmente, existem muito poucos navios grandes operados por armadores latino-americanos, exceto sob fretamento, e pelo que sabemos, não há grandes cruzeiros. A maior parte da frota latino-americana é composta de pequenas embarcações que operam predominantemente nas águas locais e, portanto, as tripulações são normalmente cobertas por esquemas de compensação locais, em vez de seguros de P&I. Por conta dessa situação, não se esperaria que as seguradoras locais fossem seriamente afetadas pelos sinistros da tripulação como resultado da pandemia da COVID-19.
Vocês já viram alguma mudança nas condições ou nas demandas dos operadores portuários ou marítimos da região da América Latina?
NB: A principal demanda que temos visto até hoje pelos armadores latino-americanos tem sido a necessidade de reduzir seus prêmios como consequência da inatividade e do lay-up de seus navios. Da mesma forma, muitos operadores portuários e terminais sofreram atividade reduzida como resultado da queda no comércio global e procuram reduzir custos, incluindo seus prêmios de seguro.
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